Livre-arbítrio:
Afinal, temos ou não temos?
Por: Rev. Waldemar Alves da Silva Filho
Introdução
Neste estudo, iremos procurar entender a
questão que envolve o termo “Livre-arbítrio”.
Trata-se de um tema que trouxe grande
discussão durante alguns períodos da História. O entendimento diferente acerca
deste tema, ou seja a defesa da existência de um “livre-arbítrio” ou a sua
negação, tem divido pessoas até hoje.
Mas, afinal temos ou não temos
livre-arbítrio? É isto mesmo que iremos verificar, não só analisando as
posições teológicas acerca do assunto, mas, buscando luz da Bíblia para clarear
nosso entendimento.
Antes de mais nada precisamos definir o que
seja esse tal “Livre-arbítrio”:
1.
Livre-arbítrio
“Livre-arbítrio”, tem sido definido, como a
capacidade dada ao homem, por ocasião de sua criação, para escolher entre o bem e o mal, entre
agradar a Deus ou desobedecê-Lo. Seria o “livre poder de eleger o bem ou o
mal”.
Héber Carlos de Campos também a define como
tendo sido a capacidade que o homem teve, “de escolher as coisas que combinavam
com a sua natureza santa, mas que, mutavelmente, pudesse escolher aquilo que
era contrário à sua natureza santa”.
Vejam que tais definições, estão de acordo
com o que prescreve a nossa Confissão de Fé:
O
homem em seu estado de inocência , tinha a liberdade e o poder de querer e
fazer aquilo que é bom e agradável a Deus, mas mudavelmente, de sorte que
pudesse decair dessa liberdade e poder.
É importante dizermos
que quanto a definição, não existe dificuldade. O problema todo que envolve o
tema, é se o homem hoje, depois da queda , possui ou não esse tal de
livre-arbítrio.
Antes mesmo de entrar
propriamente na discussão, se o homem ainda dispõe dessa capacidade, precisamos
dizer algo acerca de uma faculdade natural e inalterada no homem, mesmo depois
da queda, chamada de “livre agência” ou “capacidade de escolha”.
2. Livre Agência ou Capacidade de Escolha
Existe no homem uma
capacidade tal que lhe dá condições de fazer escolhas, de acordo com o que lhe
é agradável. O homem sempre e em qualquer condição, faz as suas escolhas, de
tal forma que ele é responsabilizado por elas. “Essa capacidade ou aptidão é um
aspecto inalienável da natureza humana normal”. Ele é livre para escolher o que
lhe agrada, de acordo com suas inclinações.
Sobre este aspecto da
existência humana a CFW diz o seguinte:
Deus dotou a vontade
do homem com tal liberdade natural, que ela nem é forçada para o bem nem para o
mal, nem a isso determinada por qualquer necessidade absoluta de sua natureza.
Ref. Tiago 1:14; Deut. 30:19; João 5:40; Mat. 17:12; At.7:51; Tiago 4:7.
Comentando acerca
desta seção da CFW, A. A. Hodge diz o seguinte:
...que a alma humana,
inclusive todos os seus instintos, idéias, juízos, emoções e tendências, tem o
poder de decidir por si mesma; isto é, a alma decide em cada caso como
geralmente lhe agrade.
O homem é livre para
escolher, sendo que nada externamente pode forçar suas escolhas. Isto é
essencial no homem, faz parte da sua criação a imagem e semelhança de Deus. “À
parte dela, não pode haver qualquer responsabilidade, confiança ou
planejamento. À parte dela, não pode haver educação, religião ou adoração. À
parte dela, não pode haver qualquer arte, ciência ou cultura. A capacidade de
escolher é uma condição sine qua non de
toda a vida humana”.
A definição de Campos
sobre este assunto é também esclarecedora:
Livre Agência, por outro lado, poderia ser definida como a
capacidade que todos os seres racionais têm de agir espontaneamente, sem
serem coagidos de fora, a caminharem
para qualquer lado, fazendo o que querem e o que lhes agrada, sendo, contudo,
levados a fazer aquilo que combina com a natureza deles.
Campos ainda falando
sobre este aspecto, enfatizando a responsabilidade humana em suas escolhas diz:
É importante que o
ser racional que ele aja sempre movido pelo seu ego. A responsabilidade dele
sempre estará diretamente ligada à voluntariedade do seu ato. Todos os atos
dele devem ser auto-inclinados e auto-determinados.
Portanto, para que
haja responsabilidade, não é necessário que haja o poder de escolha contrária,
mas sim, que haja o poder de auto-determinação, que a ação seja nascida nas
inclinações do ser racional.
Pelo que ficou
demonstrado, em qualquer época o homem é livre para agir conforme sua condição,
sua natureza, ou seja, ele sempre faz o que quer conforme a sua inclinação.
3. A queda do homem: O que aconteceu ao livre-arbítrio?
Como dissemos acima,
na criação o homem recebeu a capacidade
de fazer escolhas e possuía também a liberdade de fazer escolhas certas,
ou seja podia escolher agradar a Deus, de tal forma que pudesse cair desse
estado em que foi criado. O homem foi criado totalmente santo, integro, contudo
podia escolher algo que fosse contrário a essa sua natureza. E foi isso o que
aconteceu, ou seja, escolheu pecar. “No princípio, portanto, o homem não era um
ser neutro, nem bom nem mau, mas um ser bom que era capaz de, com a ajuda de
Deus, viver uma vida totalmente agradável a Deus”. Como dizia Agostinho, o
homem tinha a “capacidade de não pecar” (posse
non peccare).
Neste sentido, até
antes de sua queda podemos dizer, o homem possuía o livre-arbítrio, contudo com
a desobediência, ele perdeu tal capacidade, sendo que não mais consegue fazer
escolhas certas, não consegue agradar a Deus. Suas escolhas serão sempre
determinadas pelo estado em que caiu. Suas escolhas serão de acordo com a sua
natureza.
É neste ponto que
surgem então discussões, pois, diferente da posição Reformada Calvinista, os
Arminianos irão afirmar que o homem ainda
possui o livre-arbítrio. Ele pode sem a intervenção de Deus, em seu
estado natural, fazer escolhas espirituais acertadas.
Para os arminianos a
queda do homem, embora tenha trazido algum prejuízo não afetou totalmente o
homem, sendo que, continua em seu estado natural a ter habilidades para
escolher a salvação, para escolher agradar a Deus. Desta forma, a depravação
não foi total.
Vejam mais
detalhadamente a posição dos arminianos quanto
a depravação do homem:
Embora a natureza
humana tenha sido seriamente afetada pela queda, o homem não ficou reduzido a
um estado de incapacidade total. Deus, graciosamente, capacita todo e qualquer
pecador a arrepender-se e crer, mas o faz sem interferir na liberdade do homem.
Todo pecador possui uma vontade livre (livre arbítrio), e seu destino eterno
depende do modo como ele usa esse livre arbítrio. A liberdade do homem consiste
em sua habilidade de escolher entre o bem e o mal, em assuntos espirituais. Sua
vontade não está escravizada pela sua natureza pecaminosa.. O pecador tem o
poder de cooperar com o Espírito de Deus e ser regenerado ou resistir à graça
de Deus e perecer. O pecador perdido precisa da assistência do Espírito, mas
não precisa ser regenerado pelo Espírito antes de poder crer, pois a fé é um
ato deliberado do homem e precede o novo nascimento. A fé é o dom do pecador a
Deus, é a contribuição do homem para a salvação.
O ensino arminiano segue o raciocínio de Pelágio, com diferença apenas
no fato de que este, dizia que a queda não afetou em nada a humanidade, de tal
forma que “o homem continua nascendo na mesma condição em que Adão estava antes
da queda. Esta isento não só de culpa, como também de polução.” Por isso, os
arminianos são considerados semi-pelagianos, pois pensam que o homem depois da
queda tenha capacidade para fazer escolhas certas.
Os reformados
calvinistas, em contra partida, afirmam que a queda incapacitou totalmente o homem, afetando
todas as suas faculdades. O homem após a queda perdeu tal liberdade, sendo
agora escravo do pecado, morto espiritualmente.
Vejam mais
detalhadamente o pensamento calvinista sobre a depravação total
Devido à queda, o homem é incapaz de,
por si mesmo, crer de modo salvador no Evangelho. O pecador está morto, cego e
surdo para as coisas de Deus. Seu coração é enganoso e desesperadamente corrupto.
Sua vontade não é livre, pois está escravizada à sua natureza má; por isso ele
não irá - e não poderá jamais - escolher o bem e não o mal em assuntos
espirituais. Por conseguinte, é preciso mais do que simples assistência do
Espírito para se trazer um pecador a Cristo. É preciso a regeneração, pela qual
o Espírito vivifica o pecador e lhe dá uma nova natureza. A fé não é algo que o
homem dá (contribui) para a salvação, mas é ela própria parte do dom divino da
salvação. É o dom de Deus para o pecador e não o dom do pecador para Deus.
Os calvinistas neste sentido, seguem
os ensinos de Agostinho, que por sua vez combateu os ensinamentos de Pelágio.
Agostinho ensinou que quando os seres humanos “pecaram, embora não perdessem a
sua capacidade de fazer escolhas, perderam
a sua capacidade de servir a Deus sem o pecado – em outras palavras, a
sua verdadeira liberdade. O homem tornou-se, então, um escarvo do pecado; ele
passou ao estado de ‘não ser capaz de não pecar’ (non posse non peccare).”
A CFW afirma o seguinte acerca disso:
O homem, caindo em um estado de pecado,
perdeu totalmente todo o poder de vontade quanto a qualquer bem espiritual que
acompanhe a salvação, de sorte que um homem natural, inteiramente adverso a
esse bem e morto no pecado, é incapaz de, pelo seu próprio poder, converter-se
ou mesmo preparar-se para isso. Ref. Rom. 5:6 e 8:7-8; João 15:5; Rom. 3:9-10,
12, 23; Ef.2:1, 5; Col. 2:13; João 6:44, 65; I Cor. 2:14; Tito 3:3-5.
Calvino também disse o seguinte acerca
desta situação do homem:
As Escrituras atestam que o homem é
escravo do pecado; o que significa que seu espírito é tão estranho à justiça de
Deus que não concebe, deseja, nem empreende coisa alguma que não seja má,
perversa, iníqua e impura; pois o coração, completamente cheio do veneno do
pecado, não pode produzir senão os frutos do pecado.
O homem, após a queda
não possui mais o livre-arbítrio, não pode mais escolher algo que é contrário a
sua natureza pecaminosa. Ele está morto, cego, é escravo do pecado.
Esta doutrina defendida
pelos calvinistas, pelos reformados, que por sua vez é negada pelos arminianos,
não se trata apenas de uma posição teológica diferente, e sim de afirmação
bíblica. Nega-la é o mesmo que renunciar a Palavra de Deus neste assunto.
São inúmeros os
textos que afirmam tal verdade, falando que o
homem está incapacitado totalmente de atender ao convite de salvação, de
atender as exigências divinas. Isto acontece por seu próprio pecado, por sua
própria inclinação e desejo. À parte da graça de Deus o homem, por sua própria
iniciativa não pode salvar-se, ou escolher isto.
Vejamos textos que
servem de base para a doutrina calvinista:
1.
O
homem está morto, incapaz de qualquer bem, precisando da intervenção divina: Jr
13.23; Ef. 2.1-10; Rm 3.9-18, 23; Cl
2.13; Tt 3.3-5.
2.
O
homem não consegue ir até Jesus, senão com a ajuda somente de Deus: Jo 6.44,
65; Rm 9.16.
3.
O
homem precisa nascer de novo, contudo, isto só aconteça através da atuação do
Espírito Santo, que age soberanamente: Jo 3.1-15.
4.
O
homem não pode compreender as coisas espirituais, senão pelo Espírito: I Co
2.14-16.
5.
A
Bíblia declara que o homem está cego, é escarvo do pecado. Não pode fazer outra
coisa senão pecar, a não ser que Deus mude seu estado: Ef. 4.18; Jo 8.31-36; Jo
9.35-41; Rm 6.15-23; 2 Tm 2.26.
6.
O
homem não pode apresentar um fruto diferente daquilo que ele é: Mt 7.16-18; Tg
1.16-18.
Percebam que, afirmar
que o homem tem o livre-arbítrio, é o mesmo que ignorar tais textos da Bíblia.
É importante
enfatizar que, o homem mesmo neste estado, continua ser um agente livre, ou
seja, ele exerce “a livre agência”. Isto quer dizer que continua a fazer as
suas escolhas, contudo, não escolhe nada que seja contrário a sua natureza
pecaminosa (Jo 5.40; Tg 1.14; Mt 17.12; At 7.51; Ef 2.3). O homem nunca é
forçado a fazer algo que não deseja. Faz sempre aquilo que lhe traz prazer.
Sobre isto, diz
Calvino:
Não pensemos,
entretanto, que o homem peca como que impelido por uma necessidade
incontrolável; pois peca com o consentimento de sua própria vontade
continuamente e segundo sua inclinação. Mas, visto que, por causa da corrupção
de seu coração, odeia profundamente a justiça de Deus; e, por outro lado, atrai
para si toda sorte de maldade, por isso afirmamos que não tem o livre poder de
eleger o bem ou o mal – que é o que chamamos livre-arbítrio.
Campos diz também o
mesmo:
Originalmente, antes
da queda, o homem teve tanto o livre arbítrio como a livre agência. Depois da
queda o homem ficou somente com a livre agência, pois perdeu tanto o desejo
quanto a capacidade de fazer o bem, isto é, o poder de agir contrariamente à
sua natureza.
Assim, é o homem quem
escolhe continuar no pecado, contudo, não tem capacidade, por causa do seu
próprio pecado e maldade, para escolher coisa diferente a não ser que suas
inclinações e vontade sejam transformadas por Deus, recebendo habilidade para
escolher o que é bom e reto. Por isso o homem é sempre responsabilizado por
seus atos, pois, sempre escolhe o que lhe agrada.
4. Na Redenção do Homem: O que acontece ao
livre-arbítrio?
Quando Deus em sua
livre graça, resolvendo salvar o homem, age em seu coração, pela ação do
Espirito lhe implanta vida, o que acontece é que o homem recebe habilidade para
escolher o que é reto e bom. A Bíblia descreve este ato, como o da libertação
de um escravo, dando-lhe liberdade para escolher o que é agradável a Deus,
contudo, muito embora liberto, pode ainda inclinar-se para o pecado. O homem
passa a desejar o que é bom. Isto não significa que não deseje o pecado, pois,
ainda permanece nele a imperfeição.
Sobre isto diz a CFW:
Quando Deus converte um pecador e o transfere
para o estado de graça, ele o liberta da sua natural escravidão ao pecado e,
somente pela sua graça, o habilita a querer e fazer com toda a liberdade o que
é espiritualmente bom, mas isso de tal modo que, por causa da corrupção, ainda
nele existente, o pecador não faz o bem perfeitamente, nem deseja somente o que
é bom, mas também o que é mau. Ref. Col.1: 13; João 8:34, 36; Fil. 2:13; Rom.
6:18, 22; Gal.5:17; Rom. 7:15, 21-23; I João 1:8, 10.
Estaria
o homem regenerado na mesma condição de Adão antes da queda, ou seja, teria ele
agora novamente o livre-arbítrio? Não, pois, não voltamos a ser como era Adão.
Ele era perfeitamente reto, santo, e podia escolher algo que fosse contrário ao
que era a sua natureza. O homem regenerado, recebe liberdade para escolher o
que é bom, contudo, não tem o livre arbítrio, pois não escolhe algo contrário
ao que ele é. Ou seja, quando escolhe o que é bom, faz isso de acordo com a sua
nova natureza criada em Cristo e quando escolhe pecar, faz isso, conforme a sua
natureza carnal. Esta é a luta que
reside dentro do homem restaurado. Ele não pode dar lugar ao velho homem
(Ef 4.17-24; Cl 3.1-11).
É
importante ressaltar que, sendo regenerado o homem recebe habilidade, que antes
não tinha, para escolher a Deus. Conforme Agostinho, o homem recebe a
capacidade de não pecar (posse non
peccare). Por isso, e somente assim, pode atender ao convite do Evangelho
para a sua salvação. O homem na regeneração, continua a exercer a sua “livre
agência”.
Vejam como a CFW, fala da condição que o
homem para fazer escolhas espirituais, como um ser ativo:
Todos aqueles que Deus predestinou
para a vida, e só esses, é ele servido, no tempo por ele determinado e aceito,
chamar eficazmente pela sua palavra e pelo seu Espírito, tirando-os por Jesus
Cristo daquele estado de pecado e morte em que estão por natureza, e
transpondo-os para a graça e salvação. Isto ele o faz, iluminando os seus
entendimentos espiritualmente a fim de compreenderem as coisas de Deus para a
salvação, tirando-lhes os seus corações de pedra e dando lhes corações de
carne, renovando as suas vontades e determinando-as pela sua onipotência para
aquilo que é bom e atraindo-os eficazmente a Jesus Cristo, mas de maneira que
eles vêm mui livremente, sendo para isso dispostos pela sua graça. Ref. João
15:16; At. 13:48; Rom. 8:28-30 e 11:7; Ef. 1:5,10; I Tess. 5:9; 11 Tess.
2:13-14; IICor.3:3,6; Tiago 1:18; I Cor. 2:12; Rom. 5:2; II Tim. 1:9-10; At.
26:18; I Cor. 2:10, 12: Ef. 1:17-18; II Cor. 4:6; Ezeq. 36:26, e 11:19; Deut.
30:6; João 3:5; Gal. 6:15; Tito 3:5; I Ped. 1:23; João 6:44-45; Sal. 90;3; João
9:3; João6:37; Mat. 11:28; Apoc. 22:17.
Esta vocação eficaz é só da livre e especial
graça de Deus e não provem de qualquer coisa prevista no homem; na vocação o
homem é inteiramente passivo, até que, vivificado e renovado pelo Espírito
Santo, fica habilitado a corresponder a ela e a receber a graça nela oferecida
e comunicada.
Ref. II Tim. 1:9; Tito 3:4-5; Rom. 9:11; I
Cor. 2:14; Rom. 8:7-9; Ef. 2:5; João 6:37; Ezeq. 36:27; João5:25.
É o homem que diz sim
a Deus, que diz sim ao chamado do Evangelho, depois de Ter sido habilitado,
libertado do pecado. O abrir do olhos, a nova criação, o nascer de novo, é obra
da livre graça de Deus e se não for assim, ninguém poderá crer em Cristo. Se
não recebermos a fé que vem do Senhor, nunca poderemos crer. Maravilhosa graça!
5. Na glorificação do Homem: Terá o livre-arbítrio?
Quando formos
glorificados, por ocasião da vinda de Cristo e completação de nossa salvação,
teremos de volta o livre-arbítrio? Não, na glorificação, não voltaremos a ser
como Adão, estaremos à frente dele, pois, ele quando criado não gozava de uma
perfeição permanente, ou seja, podia cair de tal estado. Ele podia escolher
algo contrário a sua natureza, contudo, se tivesse sido obediente poderia Ter
alcançado a perfeição permanente. Os crente glorificados alcançarão o que Adão
não pode alcançar. Teremos perfeita liberdade para servir a Deus. Continuaremos
a ser agentes livres, pois, escolheremos o que estará de acordo com a nossa
natureza perfeita. Nunca escolheremos pecar, pois, não haverá tal
possibilidade, então, nunca mais teremos o livre-arbítrio.
Desta forma, como
disse Agostinho, alcançaremos o estado “não posso pecar” (non posse peccare).
Diz a CFW:
É no estado de glória que a vontade do homem
se torna perfeita e imutavelmente livre para o bem só. Ref. Ef. 4:13; Judas,
24; I João 3:2.
Comentando
a CFW, Hodge diz:
Quanto
ao estado dos homens glorificados no céu, nossa Confissão ensina que continuam,
como antes, agentes livres; contudo, os restos de suas velhas tendências morais
corruptas, sendo extirpadas para sempre, e as graciosas disposições implantadas
na regeneração, sendo aperfeiçoadas, e o homem todo, sendo conduzido à medida
da estatura do varão perfeito, à semelhança da humanidade glorifica de Cristo,
permanecem para sempre perfeitamente
livres e imutavelmente dispostos à perfeita santidade. Adão era santo e
instável. Os homens não regenerados são impuros e estáveis; isto é, são
permanentes na impureza. Os homens regenerados possuem duas tendências morais
opostas, digladiando-se pelo domínio em seus corações. São lançadas entre elas,
contudo a tendência graciosamente implantada gradualmente por fim prevalece perfeitamente.
Os homens glorificados são santos e estáveis. São todos livres e, portanto,
responsáveis.
Portanto
na glorificação, seremos para sempre livres, sem também o livre-arbítrio para
sempre.
Conclusão
Os
reformados, os calvinistas crêem no livre-arbítrio, como tendo sido uma
habilidade concedida a Adão e perdida na queda. Desde então o homem ficou
desprovido de qualquer habilidade para fazer escolhas santas, agradáveis a
Deus. Não lhe resta outro desejo senão o de pecar, conforme as inclinações de
seu próprio coração, sendo assim, um agente livre e responsável.
Cremos que, nunca mais tal habilidade fará
parte da existência humana. O fato de Deus nos libertar do pecado nos
habilitando a fazer escolhas acertadas, não é o mesmo que dizer que temos o livre-arbítrio.
As escolhas sempre estarão de acordo com a nossa natureza, ou naturezas.
Nem antes, nem depois, voltaremos a ser como
era Adão. Na glorificação estaremos à frente dele, num estado em que o pecado
não será possível.
Dizermos que existe um tal de livre-arbítrio,
seria o mesmo que dizer que Deus não é soberano sobre a salvação do pecador,
que Ele está sujeito ao querer do homem.
Se não fosse Deus, sua graça o que seria de
nós, nunca escolheríamos a Ele.
Que o estudo acerca desse tema, possa-nos
motivar a glorificar a Deus por causa da sua graça que, agindo em nós mudou nos
inclinações e vontade, fazendo-nos querer, desejar, o que não queríamos nem
desejávamos.
Sola
Gratia!
Soli
Deo Gloria!
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário